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    25/08/2012

    Em Rota de Colisão
    Lançamento da Academia do Livro traz um retrato inédito e impressionante sobre os riscos da aviação no país
    Henrique Malveis

    Caos nos aeroportos superlotados, interesses políticos, má gestão aeroportuária e ações eficientes no controle de tráfego aéreo, redução de custos operacionais, uso de tecnologias obsoletas e normas de segurança desrespeitadas, além de condições de trabalho precárias dos controladores de voo. Este quadro assustador da aviação brasileira é descrito pela primeira vez por um controlador de tráfego aéreo, Luis Bartok, no livro Em Rota de Colisão - Um retrato inédito e impressionante sobre os riscos da aviação no país, lançamento da editora Academia do Livro.
     
    Trata-se de um relato minucioso de alguém que viveu a rotina de controlador de voo por nove anos. Bartok conta a sua história após ter passado pelos aeroportos de Ilhéus (BA), Presidente Prudente (SP), Guarulhos (SP), onde ficou por seis anos, Brasília (DF) e Uberaba (MG). A obra conta desde sua iniciação profissional no curso de controlador civil de tráfego aéreo na vila militar de São José dos Campos (SP). O seu ingresso na “vida adulta”, ”a busca por uma vida regrada, da qual ele precisa ficar alerta o tempo todo”, onde era acordado ao som de corneta que anunciava o despertar de mais uma rotina rigorosa.
     
    Nos capítulos que seguem, Bartok relata os eventos mais relevantes dos tempos em que exerceu a profissão de controlador de voo, mesclando com passagens da sua vida pessoal, como o nascimento da filha, a perda da avó e de colegas de profissão, ao mesmo tempo em que expõe as falhas do sistema para compor um retrato fiel desse microcosmo particular, muitas vezes a margem do sistema. Como ele mesmo descreve “exige perfeição e continua a funcionar com inúmeras peças imprecisas”.
     
    Em Rota de Colisão, o leitor muitas vezes se sente, ele próprio, dentro de uma torre de controle com seus momentos de tensão e suspense misturado ao raciocínio rápido, problemas emocionais e a adaptação às mudanças operacionais. Tudo dosado em goles e goles de muito café. São casos envolvendo pilotos, controladores de voo e a gestão Infraero nos aeroportos. Como o do copiloto que tira do seu bolso um guardanapo amassado com informações do tempo e da pista de pouso a ser utilizada num voo comercial ou o caso do parafuso solto na asa do avião da VASP, por alguns voos, que a manutenção não conseguia consertar.
     
    São situações que parecem menores, perto da necessidade de trabalhar em uma área sem radar e com complicações operacionais. Saber o instante de desviar uma aeronave de sua rota para evitar uma colisão aérea ou entender o pedido de ajuda em inglês de uma aeronave estrangeira em emergência foram alguns dos desafios enfrentados por Bartok. Por algumas vezes, ele mesmo se responsabiliza por quase ter causado um acidente aéreo ou não ter entendido a comunicação em inglês do piloto.
     
    O que no mundo da  aviação é conhecido como efeito dominó. Uma série de acontecimentos imprevistos, erros e fatalidades assumem determinada ordem, derrubando peça por peça, até que a última caída constitui um desastre aéreo. Dois deles, os mais fatídicos da história da aviação brasileira são analisados detalhadamente por Bartok – a colisão entre o jato Embraer Legacy com o Boeing da GOL  e  o choque do Airbus da TAM em um depósito de cargas, vitimando 154 e 199 pessoas respectivamente.  
     
    Após ser transferido para o aeroporto de Uberaba, Luis Bartok pediu demissão. “Não havia como legitimar minha alienação a um sistema precário, de pluralidade em procedimentos irregulares, pois todos trabalhavam naquele sistema como a realidade possível. O que eu fazia era diagnosticar o futuro pelos antecedentes e fatídicos acidentes aéreos. E não sentia que aquilo era ainda possível para mim”, afirma.
     
    Em Rota de Colisão pode ser visto como “um grito de alerta”, um sentimento a partilhar com os leitores os detalhes do risco de se voar no Brasil. Um livro de utilidade não só para os profissionais do ramo, mas para aqueles que estão na ponta do iceberg: o consumidor, que paga - caro -, por suas passagens aéreas, mas muitas vezes não tem consciência do que está por trás de toda engrenagem envolvendo a aviação civil brasileira.
     
    “O controlador, que é falível e substituível, não deve servir de álibi para o sistema de tráfego que deveria ser operacional com status de infalibilidade de pane material, à prova de quedas de sistema e com uma fiscalização decente nos procedimentos executados erroneamente por todo o país”, alerta Bartok, para chegar a uma constatação digna de um script de terror -“Caso isso não se altere, viveremos esses acidentes com mais frequência, em virtude do aumento de tráfego. Mas as autoridades do sistema tentam nos convencer do contrário, por meio de argumentos repetitivos de uma mesma questão, garantindo, assim, pelo uso da força da repetição, a legitimidade de seus procedimentos”.
     
    Em Rota de Colisão - Um retrato inédito e impressionante sobre os riscos da aviação no país
     
    Autor: Luis Bartok
     
    Nº de pág.: 210
     
    Preço: R$ 34,90
     
    www.academiadolivro.com.br

     

     


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