<< Início   < Próxima  | |  Anterior >   Última >>
  • Folha de São Paulo
    25/03/2012

    Companhias pagam caro para voar na África do Sul
    Obras para a Copa-10 modernizam aeroportos, mas tarifas sobem 130% - Com demanda baixa e custo alto, 3 empresas deixam de operar em Johannesburgo, que recebeu R$ 1,3 bi
    MARIANA BARBOSA

    O aeroporto O.R. Tambo, de Johannesburgo, administrado pela empresa que vai assumir a gestão de Guarulhos em dois meses, oferece um serviço em linha com as melhores práticas internacionais. Mas é também um dos mais caros do mundo para as companhias aéreas.

    Espaçoso, funcional, bem gerido e policiado -a antítese de Cumbica-, o aeroporto recebeu o equivalente a R$ 1,3 bilhão em investimentos nos cinco anos que antecederam a Copa de 2010.

    Além de um novo e moderno terminal de passageiros e de uma estação de trem integrada, foram construídos prédios de estacionamento, cinco hotéis e sistema automatizado de inspeção de bagagens, entre outras melhorias.

    Mas uma demanda bem menor que a esperada no ano da Copa -18,6 milhões de passageiros, ante previsão de 25 milhões- fez a operadora sul-africana, a Acsa, amargar o primeiro prejuízo desde sua criação, em 1993.

    No ano fiscal finalizado em 31 de março de 2011, a empresa registrou prejuízo de R$ 52,6 milhões.

    O O.R. Tambo é responsável por 70% do faturamento da Acsa, de R$ 1,1 bilhão. O lucro do aeroporto, juntamente com o da Cidade do Cabo, sustenta os demais oito terminais administrados pela companhia no país.

    Ao todo, a Acsa investiu R$ 4 bilhões em toda a sua rede de aeroportos em preparação para a Copa.

    "Isso é um pouco menos do que vamos investir em Guarulhos em 20 anos", diz Chris Hlekane, diretor-geral do O.R. Tambo e coordenador da equipe encarregada do projeto de Guarulhos.

    "O que demonstra que nós estamos preparados para a complexidade do investimento no Brasil."

    GOVERNO ACIONISTA

    Gerida pela lei das empresas privadas, a Acsa tem no governo seu principal acionista. Para fazer frente aos investimentos pré-Copa, o modelo de exploração aeroportuária da África do Sul previa aumento de tarifas após a conclusão das obras.

    No ano passado, a empresa precisava de 161% de reajuste para fechar as contas, mas obteve 70%. O presidente da Iata (associação internacional das empresas aéreas), Tony Tyler, disse que, se o aumento fosse concedido, o aeroporto de Johannesburgo passaria a ostentar o título de mais caro do mundo.

    O reajuste acumulado desde 2010 já soma 131%.

    "Houve uma quebra de contrato e nós entramos na Justiça contra o regulador. Agora esperamos rediscutir o modelo", diz o presidente da Acsa, Bongani Maseko.

    Tarifas altas e demanda abaixo do esperado fizeram com que, nos últimos meses, três companhias interrompessem (Iberia, Malaysia e V Australia) voos para Johannesburgo, segundo o presidente da associação das empresas aéreas do Sul da África, Chris Zweigenthal.

    No Brasil, o governo afirma que não haverá reajustes nas tarifas. O maior aumento, na verdade, já aconteceu. Depois de uma década sem aumentos, as tarifas subiram 120% em março de 2011 -medida interpretada como preparatória para a concessão.

     

     

    Folha de São Paulo
    25/03/2012

    Metade da receita provém de lojas e estacionamentos

    Para fazer frente aos investimentos e às obrigações de outorga (R$ 16,2 bilhões, a serem pagos ao governo ao longo de 20 anos), a Acsa e sua parceira brasileira Invepar planejam incrementar as receitas não aeronáuticas de Guarulhos.

    Enquanto hoje em Cumbica só 30% da receita vêm do lado "shopping", nos aeroportos da Acsa 48% são de origem comercial. O estacionamento, que por lei a Infraero não pode explorar diretamente, é uma mina de ouro para a Acsa.

    Criticada por cobrar demais pelo estacionamento, a Acsa vem adotando uma política de preços diferenciados, barateando alguns setores e cobrando mais em áreas mais nobres.

    Os preços variam de R$ 2 a R$ 6,6 a primeira hora ante R$ 9 em Guarulhos.

    Ao contrário de Guarulhos, em Johannesburgo as redes de restaurante cobram exatamente o mesmo que em outros pontos da cidade.

    "É uma exigência que fazemos para os restaurantes", afirma Chris Hlekane, diretor-geral do aeroporto O.R. Tambo.

     

     

    Folha de São Paulo
    25/03/2012

    Concessão de aeroportos no Brasil prevê reajustes anuais
    LUCIA HELENA SALGADO

    O edital e os contratos de concessão dos aeroportos nos dão pistas importantes para saber se haverá pressão por reajuste das tarifas. Tanto o edital como os comunicados públicos do governo deram destaque à não ocorrência de reajuste para passageiros, assim como das demais tarifas aeroportuárias, permanecendo a principal, de embarque, em R$ 20,66.

    Os contratos introduzem a tarifa de conexão de, no máximo, R$ 7 por passageiro, que passará a ser paga pelas companhias aéreas (vale dizer, pelos usuários, já que as tarifas são incorporadas ao valor da passagem aérea).

    É claro que essa manutenção do valor fixo é algo temporário. O desenho do contrato de concessão prevê reajustes anuais para repor a inflação, contados já a partir da data de publicação do edital.

    Sobre esse reajuste anual deve ser aplicado o fator X, que corresponde aos ganhos de produtividade impostos pela Anac, repassando ao consumidor os benefícios do aumento da eficiência.

    Cabe destacar que, durante os dois primeiros anos da concessão, o fator X será nulo, de modo que as tarifas serão indexadas à inflação, garantindo que as concessionárias absorvam todo o ganhos de produtividade que venham a ter nesse período.

    Nos contratos está presente ainda a cláusula a garantir as condições de revisão extraordinária de tarifas, aquelas que garantem que, caso alteradas negativamente as condições de demanda -após os eventos esportivos ou diante de uma reversão do cenário de crescimento, por exemplo-, as concessionárias possam pedir a revisão das tarifas em vigor para garantir o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos.

    O desenho dos contratos de concessão dos aeroportos prevê que bastará demonstrar ocorrências que afetaram seus custos ou receitas para comprovar a necessidade de recompor o equilíbrio econômico-financeiro do contrato.

    Seria ingênuo não esperar que em mercados tão sujeitos a oscilações de demanda, como a aviação civil, essas questões não venham a aflorar. A judicialização do tema é também algo a esperar.

    LUCIA HELENA SALGADO é professora do FCE-Uerj (Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e coordenadora de regulação e mercados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

     

     


    << Início   < Voltar  | |  Avançar >   Última >>