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  • Valor Econômico
    15/05/2012

    Aviação executiva: Embraer prevê retomada ainda este ano
    Assis Moreira

    A Embraer espera uma ligeira recuperação do mercado de jatos executivos em 2012, após três anos de declínio, e aposta nas oportunidades de mais vendas na China, EUA e América Latina, onde surgem mais milionários. Entre 2008-2011, o mercado desmoronou 28,7%, segundo a consultoria Teal Group. No ano passado, esse mercado alcançou US$ 16,6 bilhões As vendas recuaram mais 4,7% no primeiro trimestre, somando 122 unidades.

    Mas na grande feira anual dos construtores, que se realiza em Genebra, o consenso é de que a aviação de negócios começa um novo ciclo de crescimento tanto nos mercados tradicionais como em novos mercados, sem ignorar riscos na economia global.

    "No mínimo, as vendas serão idênticas as do ano passado", afirmou Marco Tulio Pellegrini, vice-presidente de operações e COO da Embraer Executive Jets. Em 2011, 703 jatos executivos foram entregues globalmente, dos quais 99 pela Embraer. A empresa tem 14,1% de parte do mercado.

    A projeção da fabricante brasileira para este ano é de vender pelo menos 75 a 85 Phenom (o modelo menor) no mundo inteiro, e de 15 a 20 Legacy, os jatos executivos mais caro.

    Sobretudo, a China abre o apetite dos fabricantes. O executivo brasileiro diz que a China está sendo bastante compradora, embora o número de aeronaves não seja grande. E América Latina, particularmente o Brasil, também vem comprando mais.

    O fabricantes canadense Bombardier estima que 2.360 jatos de negócios serão entregues na China até 2030 ante uma frota de 150 jatos hoje. No ano passado, metade das vendas desse tipo de aviões da Dassault foi realizada na China, com 36 Falcon encomendados e o mercado se expande.

    A Embraer vendeu 14 Legacy na China no ano passado. E aguarda a aprovação do governo chinês, para até metade do ano, para começar a produzir jato executivo no país.

    "Estamos na frente dos competidores, com a linha de montagem adaptada e treinando os mecânicos", afirma Marco Tulio. Embraer espera vender entre 6 e 8 unidades inicialmente, a partir de sua fábrica chinesa.

    As vendas no Brasil também aumentaram. Só o Phenom no país já são 100. Empresários agrícolas e da construção civil fora do eixo Rio-São Paulo representam um mercado "bastante relevante".

    Em Genebra, a Embraer anunciou a entrega do primeiro Legacy para cliente da Arábia Saudita, e a primeira entrega internacional do site dos EUA, um Phenom para um cliente canadense.

    A evolução global do mercado depende também do número de compradores que consegue revender seus jatos atuais por um preço satisfatório, para passar a um modelo mais sofisticado.

    Um problema sério é o financiamento das aquisições de aeronaves, com os bancos sendo mais exigentes nas condições antes de fechar o empréstimo.

    Em todo caso, o estoque de aviões usados diminuiu, sinalizando a redecolagem do setor inteiro: representam agora 12,6% dos cerca de 18.600 jatos em serviço ante 16% em 2009, segundo a empresa francesa Zodiac Aerospace.

    Todos os fabricantes trouxeram inovações nos seus produtos e a Embraer não é diferente. A empresa anunciou também o plano de desenvolvimento de duas novas versões do Legacy: o 500, de 3 mil milhas náuticas e cabine de para oito passageiros, que poderá voar no terceiro trimestre e entrar em serviços no fim de 2013 ou começo de 2014. O segundo é o Legacy 450, menor, de seis ocupantes e 2.300 milhas náuticas, com planos um ano depois do Legacy 500.

    Por sua vez, Bombardier revelou dois novos aparelhos batizados Learjet 70 e Learjet 75, que deverão ser operacionais no primeiro semestre de 2013.

     

     

    Valor Econômico
    15/05/2012

    Crise de crédito na Europa atinge a indústria da aviação
    Daniel Michaels e Darcy Crowe

    Uma fabricante espanhola de componentes-chave para os grandes fabricantes mundiais de aviões, entre eles a Airbus, a Boeing Co. e a Empresa Brasileira de Aeronáutica SA, está desacelerando sua produção e tendo dificuldades para pagar suas contas.

    A Alestis Aerospace SL às voltas com um aperto de caixa por causa da crise bancária da Espanha, um forte exemplo de como a turbulência financeira na Europa está prejudicando a economia industrial do bloco e colocando em risco alguns dos programas de aeronaves mais bem-sucedidos do mundo.

    Este mês, a Alestis, sediada em Sevilha, foi colocada sob administração de um tribunal, o equivalente espanhol à reestruturação judicial. Seus problemas estão transborando para seus fornecedores, que vêm sendo pagos com atraso, quando chegam a receber algo, e fizeram soar alarmes na Airbus. A fabricante de aviões, uma divisão da European Aeronautic Defence & Co., é a maior cliente da Alestis e é dona de 1,85% da empresa.

    A Alestis produz algumas das principais peças para aviões, incluindo longarinas, painéis e forros para o campeão de vendas Airbus A320 e o superjumbo A380, o maior jato de passageiros do mundo. Seus contratos de longo prazo geram pagamentos estáveis de empresas estabelecidas. Mas os bancos espanhóis fecharam as comportas do crédito, de modo que a Alestis, como muitas empresas especializadas, está operando com um orçamento apertado.

    "Cinco anos atrás, os bancos vinham bater à nossa porta oferecendo empréstimos", disse ao The Wall Street Journal Juan Pedro Vela, membro do conselho de administração da Alestis. "Agora você pede um empréstimo e eles fecham a porta na sua cara."

    Os problemas se agravam num momento em que tanto a Airbus como a americana Boeing estão produzindo aviões a um ritmo quase recorde porque as companhias aéreas querem modelos eficientes no consumo de combustível. Ambos os fabricantes divulgaram fortes lucros recentemente, mas reconhecem que pequenos fornecedores podem ter pela frente situações financeiras mais precárias.

    A Airbus está "acompanhando de perto a situação financeira", disse um porta-voz. Para ajudar, a Airbus está pagando suas contas rapidamente. Ela também está monitorando os fornecedores da Alestis para garantir que eles sejam pagos imediatamente. Outras medidas ainda são incertas, acrescentou o porta-voz. Até agora, as entregas continuam no prazo e a qualidade continua alta, disse ele.

    Vela, do conselho da Alestis, disse que "os programas de produção estão avançando hoje de forma mais lenta."

    Executivos da Boeing e da Embraer não quiseram comentar sobre a situação da Alestis, que não divulga resultados financeiros.

    Vários fornecedores da indústria aeronáutica têm enfrentado problemas financeiros recentemente. Muitos deles investiram fortemente para desenvolver peças para o superjumbo Airbus A380 e para o 787 Dreamliner da Boeing, na expectativa de retornos polpudos. Mas ambos os projetos sofreram grandes atrasos, o que resultou em fluxos mais lentos de receita para os fornecedores.

    A Airbus comprou em setembro uma participação majoritária na PFW Aerospace AG, uma pequena fornecedora alemã, por uma quantia não revelada depois que a PFW foi ferida por atrasos da Airbus. Em 2009, a Boeing comprou a Vought Aircraft Industries, empresa envolvida na produção do Dreamliner, por um total aproximado de US$ 1 bilhão em dinheiro e perdão de dívida. Ambas as aquisições estavam mais ligadas à produção de aviões que à crise financeira.

    A Alestis foi criada em 2009 como resultado da fusão de várias pequenas empresas aeronáuticas da Espanha, com o apoio do governo regional da Andaluzia. O objetivo, apoiado pela Airbus, era criar um fabricante com escala suficiente para atuar como um fornecedor de primeira linha. Embora menor do que muitos outros fornecedores-chave para a Airbus e a Boeing, a Alestis tem experiência valiosa no desenvolvimento de peças de materiais compósitos avançados.

    As operações da empresa começavam a deslanchar quando o boom imobiliário espanhol da década passada entrou em colapso. Os bancos ficaram com pilhas de empréstimos inadimplentes que logo atraíram o escrutínio das autoridades e dos mercados financeiros.

    Na semana passada, o governo ordenou que todos os bancos da Espanha aumentem suas provisões contra perdas potenciais ligadas ao setor imobiliário, o que vai reduzir o capital dessas instituições financeiras para empréstimos a empresas como a Alestis.

    As caixas econômicas do país foram os maiores credores da Alestis, que emprega aproximadamente 1.700 pessoas. Mas as caixas são agora consideradas os bancos mais fracos da Espanha e o governo ordenou que elas entrem em processo de fusão para aumentar sua solvência.

    O risco agora é uma espiral descendente na qual os bancos sufoquem seus clientes. A Alestis é um raro exemplo de uma empresa voltada à tecnologia na Andaluzia, região mais populosa da Espanha e a que registra o maior nível de desemprego. O turismo é a principal indústria, particularmente ao longo do litoral, que é repleto de hotéis de luxo e resorts. Muitos moradores dependem de empregos públicos e de trabalho agrícola sazonal.

    "Há pouquíssimas empresas de um setor forte e global que operam aqui como a Alestis", disse Pedro Lloret, líder sindical dos trabalhadores da Alestis. "Seria uma perda terrível para a Andaluzia."

    A Alestis inicialmente não teve problemas para obter empréstimos, mas encontrou obstáculos à medida que seus projetos sugavam todo o caixa disponível, disse Vela. "Os bancos não têm como liberar dinheiro para tê-lo empatado por 10 ou 20 anos, o que é a natureza do nosso negócio", disse ele. "É impossível explicar como uma empresa com um contrato de 20 anos com a Airbus não consegue obter um empréstimo. Simplesmente não há liquidez."

    Vela disse que o futuro da empresa é difícil de prever. Por ora, os gestores estão tentando ajustar-se à realidade. "Antes, quando você desenvolvia um plano de negócios, podia essencialmente pular a parte sobre o financiamento", disse. "Agora, essa deve ser a sua maior preocupação."

     

     


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