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  • Valor Econômico
    07/02/2012

    Preços pagos no leilão superam geração de caixa de aeroportos

    Com ágios superlativos, que atingiram a média de 347%, a disputa pela concessão dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília foi encerrada em menos de três horas. Em uma cena rara, nenhuma das gigantes da construção nacional - Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa - figurou entre os vitoriosos. Além disso, nenhuma operadora de renome internacional integra os consórcios vencedores - a gestão dos três aeroportos ficará sob responsabilidade de empresas estrangeiras do mundo emergente. Ao saírem da Bovespa com despesas muito superiores à dos lances mínimos, os consórcios terão de enfrentar o grande desafio de resolver a equação financeira dos novos negócios com lucro.

    Embora o pagamento dos R$ 24,5 bilhões em outorgas seja feito anualmente ao longo das concessões, os valores superam a geração de caixa anual obtida hoje pelos aeroportos. No caso de Guarulhos, a outorga consumirá pouco mais de R$ 800 milhões por ano, enquanto a estimativa de geração de caixa gira em torno de R$ 500 milhões atualmente.

    A Invepar, controlada pelos fundos de pensão Previ, Petros, Funcep e pela empreiteira OAS, ofereceu R$ 16,213 bilhões por Guarulhos, valor mais de R$ 4 bilhões superior ao lance mais próximo, da OHL Brasil. A construtora aliou-se à operadora sul-africana ACSA. Com estrutura de holding, a Invepar tem sob seu guarda-chuva seis empresas operacionais: Linha Amarela, Raposo Tavares, Metrô Rio, 25% da CRT, Bahia Norte e Litoral Norte. Seu faturamento foi de R$ 1,1 bilhão em 2011. O presidente da companhia, Gustavo Rocha, não detalhou o plano de negócios, mas antecipou que a ampliação das receitas não tarifárias é parte essencial da estratégia.

    A Engevix, que arrematou a concessão de Brasília com proposta de R$ 4,51 bilhões, ágio de 673% sobre o valor inicial, fechou parceria com a argentina Corporación América - detentora de uma rede de 33 aeroportos em seu país e um histórico de renegociações contratuais e falta de investimentos. A Triunfo, vencedora do leilão de Viracopos com uma oferta de R$ 3,821 bilhões, associou-se à francesa Egis Aiport Operation - cujas operações se concentram no Congo, Costa do Marfim, Chipre e Taiti. Em outubro de 2008, a Triunfo chegou a se classificar em primeiro lugar no leilão para concessão das rodovias Ayrton Senna e Carvalho Pinto, em São Paulo, mas foi desabilitada por não depositar as garantias exigidas dentro do prazo. Endividada, suas ações caíram 5% após vencer o leilão.

    De seu gabinete no Planalto, a presidente Dilma Rousseff acompanhou em tempo real os leilões. O resultado superou as melhores expectativas do governo federal.

     

     

    Folha de São Paulo
    07/02/2012

    Operadores modestos levam aeroportos
    Responsáveis por terminais na África e na Argentina dominam leilão de privatização de Cumbica, Viracopos e Brasília - Os três grupos vão pagar R$ 24,5 bilhões pela concessão, 347% superior ao esperado; BNDES financia 80%
    DIMMI AMORA, MARIANA BARBOSA, JULIO WIZIACK E MARIANA SALLOWICZ

    Pesos-pesados da administração de aeroportos globais, como os de Cingapura, Frankfurt e Zurique, foram derrotados ontem no leilão dos aeroportos brasileiros de Cumbica, Viracopos e Brasília. Quem levou foram operadores da África e da América Latina, que não administram nenhum dos 30 maiores aeroportos do mundo. Os três grupos vencedores pagarão R$ 24,5 bilhões pela concessão, 347% mais que o lance mínimo. O BNDES financia 80% desse investimento.

    As concessões serão de 20 anos (Cumbica), 25 anos (Brasília) e 30 anos (Viracopos). A estatal Infraero manterá participação de 49%. Os consórcios são obrigados a manter um investimento mínimo (e mais concentrado) até a Copa-14 (ver quadro ao lado).

    A Anac (Agência Nacional de Avião Civil) disse que controlará o reajuste das tarifas.

    Os vencedores de Cumbica foram o consórcio formado por 90% da Invepar (sociedade entre a construtora OAS e fundos de pensão Previ, Funcef e Petros) e 10% da sul-africana Acsa.

    "O fato de ser um país emergente não diminui ninguém porque, senão, teríamos de ter o complexo de vira-lata eterno. Não temos vergonha de ser emergentes", afirmou o ministro da Aviação Civil, Wagner Bittencourt.

    "São atores perfeitamente possíveis de ganhar e ganharam. Pena que os outros não tenham tido tanta ambição."

    O maior aeroporto brasileiro, em Guarulhos, com 30 milhões de passageiros/ano, terá como operadora a Acsa, que trabalha, há quase dez anos, com nove unidades da África do Sul, entre elas a de Johannesburgo e a da Cidade do Cabo. Juntas, recebem 35 milhões de passageiros/ano.

    Embora o aeroporto de Johannesburgo seja elogiado pela beleza, o país não primou pela excelência na Copa-10. Jatos executivos lotaram os pátios e voos comerciais tiveram de ser desviados. Houve caso de aviões vindos da Europa que tiveram de retornar em pleno voo.

    Viracopos, em Campinas, será operado pela Egis, consultoria francesa que administra 11 aeroportos na África (Argélia, Congo, Gabão) e na Polinésia, além do terceiro aeroporto de Paris, o Beauvais, a 55 km da capital francesa. Juntos, têm 13 milhões de passageiros ao ano (menos que Congonhas, que recebe 16,7 milhões).

    A Egis tem 10% do consórcio, em sociedade com a Triunfo (45%) e a UTC (45%).

    TÁTICA AGRESSIVA

    Vencedores do aeroporto de São Gonçalo do Amarante, em Natal, o consórcio formado pela Infravix (construtora Engevix) e pelo operador aeroportuário argentino Corporación América, foi o mais agressivo no leilão, levando Brasília com 675% de ágio.

    Com 40 aeroportos na América do Sul e na Armênia, dos quais 33 na Argentina, a empresa tem uma história conturbada em seu país.

    Venceu o leilão de privatização nos anos 90 pagando ágio elevadíssimo, mas não conseguiu honrar contratos.

    Com dívidas de US$ 600 milhões e atrasos no cronograma de investimentos, o grupo conseguiu, em 2007, renegociar o contrato, trocando a dívida por uma participação de 20% do Estado. Com a "reestatização", deixou de pagar a outorga em troca de um porcentual das receitas para o governo.

     

     

    Folha de São Paulo
    07/02/2012

    Consórcio de fundos de pensão ganha Cumbica

    O governo concedeu os três mais atraentes aeroportos brasileiros, mas poderá continuar a ser o dono do maior deles, o de Guarulhos (SP). O vencedor da licitação, o consórcio Invepar-Acsa, é formado pela brasileira Invepar (com 90%) e com a operadora sul-africana Acsa (10%).

    A Invepar é formada pela construtora OAS, com 50% do capital, e os três maiores fundos de pensão de empresas públicas -Previ, do Banco do Brasil, Petros, da Petrobras, e Funcef, da CEF- com a outra metade das ações.

    Como a nova empresa que vai operar o aeroporto terá 49% de capital da Infraero e 51% da Invepar-Acsa, a estatal e os fundos de pensão terão 63% das ações da companhia que vai gerir Guarulhos.

    O ministro da Aviação Civil, Wagner Bittencourt e o presidente da Infraero, Gustavo do Vale, afirmaram que o governo não vai ter influência na administração da nova empresa. Mas que a Infraero pretende se manter com o tamanho atual e, caso haja aumento de capital, a estatal vai entrar com mais dinheiro para evitar ser diluída.

    Em Campinas, a vencedora da licitação foi o consórcio Aeroportos do Brasil, formado pelas construtoras TPI e UTC (90%) e a operadora francesa Egis Airport (10%).

    Em Brasília, venceu o consórcio Inframérica, formado por Engevix (50%) e Casa (50%), operadora argentina com 49 aeroportos no mundo, entre eles o de São Gonçalo do Amarante (RN), o primeiro brasileiro privatizado.

    Os ágios (sobrepreços) no leilão foram considerados altos. Em Guarulhos, o consórcio ofereceu R$ 16,1 bilhões por 20 anos de contrato, 373% mais que o preço mínimo.

    Ano a ano, a empresa terá que pagar ao governo R$ 800 milhões. O valor da outorga é maior que toda a arrecadação do aeroporto em 2010 -R$ 693,1 milhões. A operadora terá de bancar ainda obras avaliadas em R$ 4,6 bilhões -R$ 1,4 bilhão até 2014.

    "As propostas refletiram muito mais o espírito de risco", afirmou o advogado Adelmo Emerenciano.

    Em Campinas, com R$ 3,8 bilhões, o ágio foi de 159%. Brasília teve o mais alto, 675% -chegando a R$ 4,5 bilhões.

    Esse valor ocorreu porque foi Brasília foi o único aeroporto para o qual houve disputa na fase de viva-voz. O consórcio da mineira Fidens com a ADC&HAS (EUA) deu um lance e saiu do páreo.

    Na disputa com o grupo formado por brasileiros e argentinos, os espanhóis da OHL/Aena desistiram depois do terceiro lance.

    Em Guarulhos e Campinas, não houve essa disputa. A proposta vencedora foi dada nos lances em papel. A segunda colocada em Guarulhos foi a proposta da brasileira EcoRodovias com a alemã Fraport, que ficou R$ 3,3 bilhões abaixo da vencedora.

    Estamos seguros do que fizemos, disse Gustavo Rocha, presidente da Invepar.

     

     

    Folha de São Paulo
    07/02/2012

    Grupo vencedor é alvo de críticas na administração do Metrô do RJ

    A Invepar (Investimentos e Participações em Infraestrutura S.A.), que venceu o leilão do aeroporto de Cumbica, controla desde 2009 o Metrô carioca. Em 2010, a operação causou prejuízo de R$ 20,8 milhões, ante lucro de R$ 3,7 milhões em 2009. O serviço é alvo de críticas frequentes. Segundo o especialista em transportes e ex-diretor de planejamento e de projeto do Metrô do Rio, Fernando MacDowell, o serviço piorou, em grande parte por problemas herdados de gestões anteriores.

    "Creio que eles terão mais sorte na administração do aeroporto, porque no Metrô do Rio é um problema atrás do outro, não tem dia que não pare, que não atrase. Mas, no aeroporto, vão ter mais facilidade porque não precisam cuidar da operação do transporte. As empresas aéreas é que terão que fazer isso."

    Ontem mesmo, 11 estações da Linha 2 do metrô ficaram fechadas por meia hora pela manhã em consequência de problemas de sinalização.

    Formada por uma maioria de investidores -os fundos de pensão Previ (BB), Petros (Petrobras) e Funcef (Caixa)- e a construtora OAS, a Invepar, segundo MacDowell, recebeu do governo do Rio uma frota de trens canibalizados e, para piorar a situação, herdou uma encomenda de trens errados feita à China, o que vem causando transtornos.

    A demora em colocar trens novos em circulação poderá valer ao Metrô uma multa pedida pelo governador Sérgio Cabral à Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes.

    Além do Metrô, a Invepar controla a linha Amarela (que liga a Barra da Tijuca à Ilha do Fundão), também no Rio; a Linha Verde (rodovia entre Salvador e Aracaju); e a concessionária Auto Raposo Tavares, em São Paulo.

     

     

    Folha de São Paulo
    07/02/2012

    Preço alto deixa dúvida sobre rentabilidade
    Simulações mostraram que ágio a ser pago por aeroportos não permitiria amortizar investimento até fim da concessão - Para desistente, seria necessário abrir mão de lucro para cobrir proposta vencedora do terminal de Guarulhos

    As maiores construtoras do país -que participaram do leilão em parceria com operadores dos melhores aeroportos do mundo- desistiram da disputa. Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Odebrecht e Queiroz Galvão nem chegaram a fazer proposta no viva-voz, após o lance inicial.

    A Folha apurou que elas consideraram o ágio elevado demais para garantir retorno sobre o investimento no prazo da concessão.

    Para Guarulhos, vendido por R$ 16,2 bilhões, elas chegariam a, no máximo, R$ 10 bilhões com chance de retorno sobre o investimento.

    Um dos desistentes afirmou à Folha que, pelas simulações, teria de abrir mão de lucros para cobrir a proposta vencedora em Guarulhos.

    Ainda segundo ele, com a receita obtida, daria para pagar impostos, no máximo.

    Outra evidência dessa suposta distorção foi a relação entre o valor a ser pago pela outorga ao longo dos anos e a receita do aeroporto.

    Em 2011, a receita bruta de Guarulhos foi de R$ 1 bilhão. Somente para pagar a concessão, durante o prazo de 20 anos, o consórcio vencedor desembolsará, em média, R$ 810 milhões por ano.

    Isso sem contar o pagamento de impostos, encargos, os custos operacionais e os investimentos que terão de ser feitos ao longo dos anos.

    Em Brasília, o vencedor (consórcio Inframérica) pagará, em média, R$ 180 milhões por ano até 2037. Em 2010, a receita bruta do aeroporto foi de R$ 200 milhões.

    Para o aeroporto internacional de Campinas, que teve ágio de 159%, o consórcio vencedor (Aeroportos Brasil) pagará R$ 127,4 milhões por ano, em média, até 2042. Em 2011, a receita bruta foi de R$ 300 milhões.

    SUPERAVIT

    O governo não só se surpreendeu com o resultado do leilão dos aeroportos como já prevê arrecadar no início do ano que vem pelo menos R$ 1,3 bilhão com as concessões. Os recursos contribuirão para engordar o superavit primário de 2013.

    Com a concessão, o governo passou a garantir receita extra de, ao menos, R$ 1 bilhão por 20 a 30 anos.

    A presidente Dilma Rousseff celebrou o resultado. No ano passado, ela fora informada pela sua equipe de que o valor estimado da concessão dos três aeroportos ficaria em torno de R$ 10 bilhões.

     

     

    Folha de São Paulo
    07/02/2012

    Anac diz que controlará reajuste das tarifas

    O governo afirma que não haverá aumento de tarifas ao consumidor devido à concessão dos aeroportos. Segundo o presidente da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), Marcelo Guaranys, as tarifas-teto das concessionárias vencedoras serão reguladas pela agência. Os reajuste serão anuais, com base no índice de inflação, e controlados pelo governo. A expectativa da agência é que possa haver redução de tarifa.

    A tarifa de embarque hoje é de R$ 15,20 para voos nacionais e R$ 26,91 para internacionais. Sobre essas tarifas incide uma taxa de 36% e, nos voos para fora do país, uma segunda cobrança de US$ 18, que vai permanecer.

    De acordo com o governo, a tarifa dos concessionários privados será ajustada logo após a assinatura do contrato, previsto para maio de 2012, pela inflação acumulada do ano passado e mais a deste ano. Depois, ela aumentará pela inflação anual.

    MUDANÇAS

    No modelo, o governo criou um fator de eficiência que poderá fazer com que os reajustes possam ser maiores ou menores que a inflação, dependendo do desempenho (tanto operacional e financeiro quanto de qualidade de atendimento).

    Se o concessionário trabalhar melhor que o previsto, ele pode ganhar até dois pontos percentuais a mais de reajuste. Se for pior, pode perder até sete pontos percentuais de aumento.

    As tarifas aeroportuárias respondem por cerca de 7% dos custos das companhias aéreas. Com os reajustes, o valor pode chegar a 10% dentro de dois anos, segundo a Folha apurou.

    CONCESSIONÁRIAS

    O presidente da Infraero, Gustavo do Vale, afirmou que os contratos de locação firmados com a Infraero deverão ser honrados pelas concessionárias. Na prática, deverá haver uma forte renegociação, com aumento de preços para quem aluga.

    Segundo Vale, o novo operador terá mais liberdade para atuar diretamente em áreas em que a estatal estava proibida de atuar.

    É o caso dos estacionamentos, que hoje são operados por concessões ou por contratos de prestação de serviço.

     

     

    Folha de São Paulo
    07/02/2012

    Resultado do leilão mostra o interesse pelos ativos de infraestrutura do Brasil
    EDUARDO PADILHA

    Estamos presenciando atualmente a voracidade dos investidores por ativos de infraestrutura no Brasil. Apesar dos riscos de ser um sócio da Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária) e de fragilidades do edital, nos deparamos com participantes dispostos a pagar um valor incrível, às vezes até questionável, como no caso do consórcio vencedor de Guarulhos.

    Esse fato apenas evidencia dois grandes temas: o primeiro, a latente ineficiência do Estado em gerir esses ativos de infraestrutura.

    Quando os ativos foram analisados por competidores que entendem do mercado, eles conseguiram visualizar mais eficiência na administração, dado que o custo operacional hoje praticado pela Infraero é muito elevado, por conta de sua ineficiência.

    Também enxergaram oportunidades de negócios já existentes em inúmeros aeroportos no mundo e ignorados no Brasil.

    A ineficiência chega ao ponto de o aeroporto de Guarulhos perder clientes de estacionamento -sendo que ele detém monopólio do serviço- para competidores localizados a mais de três quilômetros, por não disponibilizar vagas. Se não fosse trágico, seria até engraçado.

    E o segundo grande tema é a oportunidade que o país está perdendo com a morosidade dos processos licitatórios de transferência desses ativos de aeroportos, portos, rodovias, entre outros, para a iniciativa privada.

    Esperamos que essas evidências façam essa situação mudar.

    Outra questão é: como se comportará a Infraero como sócia?

    Esperamos que a estatal não atrapalhe a necessidade de investimento e crescimento dos aeroportos.

    Inúmeros outros processos de concessão e PPPs (Parcerias Público-Privadas) encontram-se paralisados, caminhando vagarosamente pela malha do Estado em todas as esferas: municipal, estadual e federal.

    O risco é perdermos a janela de oportunidade por mais uma ineficiência do Estado brasileiro.

     

     


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