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  • Valor Econômico
    05/03/2012

    Preço do bilhete aéreo sobe 50% no último ano
    Daniele Madureira e Letícia Casado

    Na sexta-feira, a Gol lançou o "Super Feirão": quem comprasse até a manhã de hoje o voo de ida, pagaria apenas R$ 1 pela volta. No mesmo período, a TAM anunciou a "Mega Promo", oferecendo tarifas com até 90% de desconto. Para o brasileiro comum, fica a impressão de que os voos estão cada dia mais baratos. Mas o levantamento feito pelo Valor Data, com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do país medida pelo IBGE, mostra uma realidade diferente. Nos últimos cinco anos, o aumento real dos preços das passagens aéreas nacionais foi de 109,4%. Só nos doze meses encerrados em janeiro deste ano, a alta real de preços foi de 50%.

    A disparada na cobrança das passagens acontece em meio à demanda crescente da classe média, que cada vez mais vem trocando a rodoviária pelas salas de embarque. Ao mesmo tempo, aeroportos e companhias aéreas não se mostram preparados para atender a demanda. Na sexta-feira, por exemplo, uma falha no sistema de check-in da TAM causou atrasos em 28% dos voos da companhia em todo o país. Passageiros chegaram a ficar mais de uma hora na fila.

    As aéreas têm um álibi comum para o aumento de tarifas bem acima da inflação: o custo do combustível. Em 2011, enquanto a receita com passageiros cresceu 9,3% na TAM, a despesa com combustíveis subiu 21,3%. Procurada, a TAM não atendeu a reportagem até o fechamento dessa edição.

    Na concorrente Gol, que ainda não divulgou o balanço de 2011, o custo com combustível aumentou 26% no acumulado de janeiro a setembro do ano passado, versus o mesmo período de 2010. Enquanto isso, a receita com passageiros subiu apenas 3%. "O petróleo corresponde a cerca de 40% dos custos operacionais da companhia", informou a Gol em resposta ao Valor.

    A aérea contesta, no entanto, o aumento no preço das suas passagens no ano passado. Segundo a Gol, uma medida mais coerente para as tarifas é o "yield" (valor médio pago para um passageiro voar um quilômetro). Na empresa, o yield caiu 5% no ano passado em comparação a 2010, em função da guerra tarifária entre as empresas na primeira metade do ano.

    De acordo com a Gol, "todos os trechos oferecidos contemplam tarifas competitivas com as cobradas por empresas de ônibus interestaduais". Para a companhia, "o que influencia no preço é a antecedência que o cliente adquire os bilhetes", só assim é possível conseguir "tarifas semelhantes às da baixa temporada".

    É o que vem tentando fazer a rede baiana de lojas de departamentos Le Biscuit. Para lidar com o aumento no preço das passagens aéreas, a empresa procurou fazer uma revisão detalhada da verba de viagens e estabelecer alguns limites. "Os voos são negociados com, no mínimo, sete dias de antecedência", o diretor financeiro da Le Biscuit, Antônio Carlos Passos. A varejista está em expansão (tem 20 lojas e vai abrir mais 12 este ano), e os executivos tem viajado muito mais agora do que antes. Com a nova medida, a economia chegou a 50% na compra de passagens e a 10% na reserva de hotéis, uma vez que a empresa passou a negociar a estadia diretamente, eliminando a comissão das agências.

    Nas agências de viagem, a alta das passagens alterou completamente o planejamento. Por conta da demanda maior, as agências tiveram que reservar as passagens com muito mais antecedência para manter o mesmo nível de desconto negociado com as aéreas. "Se antes as agências compravam os bilhetes cinco ou seis meses antes do embarque, agora têm que comprar um ano antes", afirma Edmar Bull, vice-presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav). "É a lei da oferta e da procura", resume o executivo.

    Segundo Bull, as vendas corporativas sustentam as companhias aéreas: a tarifa média para empresas gira em torno de R$ 550, contra R$ 330 do usuário particular. "Se a operadora consegue vender 90% do voo com antecedência, faz promoção das passagens que restam", diz ele. A mesma lógica vale para os dias ou horários de baixa procura, que acabam integrando as promoções relâmpago. "Há voos que partem praticamente vazios", afirma. "Não podem ser cancelados para que a companhia não perca 'slots'", diz Bull, referindo-se a vagas para pousos e decolagens em aeroportos.

    A Webjet confirma o aumento no preço das passagens aéreas nos doze meses encerrados em janeiro. Entre as justificativas, estão a alta de até 34% no custo do combustível, o aumento de até quatro vezes no valor da alíquotas de ICMS de combustível no Estado do Rio de Janeiro e em Confins (MG), a alta de até 150% nas taxas de comunicação e de auxilio rádio-visuais, além da taxa de embarque, que subiu 5%.

    As tarifas de pouso, por sua vez, aumentaram cerca de 70%, diz a empresa. Em Salvador e Curitiba, a tarifa de pouso mais do que dobrou, para 158%, informa a aérea. "Mesmo dentro desse cenário inflacionário, a companhia consegue oferecer tarifas competitivas, graças à busca contínua por eficiência", informou a empresa.

    Para Gianfranco Beting, diretor de comunicação da Azul, a alta nos preços reflete apenas uma recuperação já que, com a entrada de novos competidores, como a própria Azul, a Avianca e a Webjet, as passagens ficaram mais baratas no passado. "Com o surgimento da Azul e o incremento em um mercado mais competitivo, o preço despencou e foi recomposto no último ano", diz Beting.

    O executivo concorda que o aumento dos gastos com petróleo influenciou a inflação das passagens. O combustível representa hoje entre 35% e 40% dos gastos da empresa. Beting afirma não ter uma previsão do que deve ocorrer com as tarifas nos próximos meses: "A gente observa o que está acontecendo no mercado e reage. Com 10% de market share, não somos capazes de ditar preços. É uma questão de tamanho: não é você que faz o preço, a não ser que tenha posição muito dominante".

     

     

    Valor Econômico
    05/03/2012

    Para Anac, preço caiu 9,3% em 2011
    Daniel Rittner

    A tarifa média das passagens aéreas caiu 9,3% em 2011 e 44,9% nos últimos dez anos, segundo o último levantamento feito pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), com dados de outubro. Naquele mês, a viagem doméstica custava pouco mais de R$ 265, em média. Esse indicador mede o valor pago por passageiro em uma viagem aérea, independentemente das escalas, das conexões e da distância dos voos.

    Em qualquer comparação, há queda também em outro índice usado pela agência, o de "yield" das tarifas. O indicador é considerado útil porque mede o valor que os passageiros pagam, em média, por cada quilômetro voado. As rotas mais longas tendem a ter yield menor, já que os custos das empresas - com decolagem e aterrissagem, atendimento em terra aos passageiros, processamento de bilhetes - são diluídos por mais quilômetros. Até outubro, o yield médio de 2011 estava em R$ 0,331. O valor representa queda de 7,3% em relação ao anterior e redução de 26,1% em uma década.

    A Anac lembra que fatores como o grau de concorrência em determinadas rotas, a antecedência de compra do bilhete e o período (alta ou baixa temporada) influenciam fortemente os preços.

    Nos levantamentos da Anac são considerados os dados de passagens domésticas vendidas ao público adulto, independentemente de escalas ou conexões, antecedência de compra do bilhete, dia do voo, tempo de permanência do passageiro no destino e canal de venda. Não são contabilizados os bilhetes oferecidos gratuitamente, emitidos por programas de milhagem, vinculados a pacotes turísticos e tarifas diferenciadas (convênios corporativos, para crianças ou pessoal da própria companhia).

    Há, portanto, significativas diferenças metodológicas na comparação com o IBGE. Nenhuma está errada. Só são aferições distintas. A pesquisa do IBGE é feita nos sites das empresas e verifica passagens com partida aos sábados de uma semana e retorno aos domingos da semana seguinte. O valor da tarifa é pesquisado entre 30 e 60 dias antes da data de embarque. As rotas selecionadas correspondem às capitais dos Estados onde estão as cidades mais visitadas do país, em todos os horários disponíveis no momento da consulta. No caso de cidades onde há mais de um aeroporto, pesquisa-se sempre no "principal", segundo o IBGE.

     

     


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